Âncora

Devocionais fáceis de usar

  • Confiar em Deus em Cada Fase da Vida

    Tesouros

    [Trusting God in Every Season of Life]

    A Bíblia ensina que, “para tudo há uma ocasião, e um tempo para cada propósito debaixo do céu”. Na sequência dessa passagem vemos exemplos dessas épocas, como tempo de nascer e tempo de morrer; tempo de derrubar e tempo de construir; tempo de chorar e tempo de rir; tempo de prantear (Eclesiastes 3:1–7). São muitos os relatos de pessoas que suportaram altos e baixos, triunfos e perdas. As histórias do Antigo Testamento incorporadas na “Galeria dos Heróis” de Deus no capítulo 11 da epístola aos Hebreus, falam de pessoas que guardaram a fé e confiaram em Deus em cada fase de suas vidas.

    A realidade é que problemas, dificuldades, desafios, doenças, desgostos, tragédias e perdas são elementos inerentes à vida, inclusive dos cristãos. Nas épocas em que enfrentamos desafios, pode ser difícil entender por que Deus permite certas coisas em nossas vidas ou no mundo ao nosso redor. Nós nos indagamos por que Deus não resolve todos os nossos problemas e nos protege -- a nós e aos outros -- de toda tristeza, sofrimento e perda? Por que Ele não torna esta vida indolor e perfeita como prometeu que será nossa vida no céu por toda a eternidade? Por que temos que suportar dificuldades e sofrimentos?

    A resposta resumida é que nosso tempo na terra é um campo de provas, onde temos a oportunidade de crescer na fé, nos aproximarmos de Deus e sermos transformados para nos tornarmos mais como Jesus (2 Coríntios 3:18). As tribulações nos fazem recorrer ao Senhor e depender mais dEle. Nossas experiências nos ensinam amor, compaixão e empatia, capacitando-nos a melhor ajudar e servir ao próximo (2 Coríntios 1:4). Nossos problemas têm o propósito de nos fortalecer, nos ensinar, aumentar a nossa fé e confiança em Deus, além de nos ensinar a ter compaixão dos outros.

    Em sua primeira epístola, o apóstolo Pedro destacou que os crentes nasceram “para a obediência e a purificação pelo sangue de Jesus Cristo”. E prossegue dizendo: “Portanto, alegrem-se com isso, ainda que agora, por algum tempo, vocês precisem suportar muitas provações. Elas mostrarão que sua fé é autêntica. Como o fogo prova e purifica o ouro, assim sua fé está sendo experimentada, e ela é muito mais preciosa que o simples ouro. Isso resultará em louvor, glória e honra no dia em que Jesus Cristo for revelado” (1 Pedro 1:3–7).

    Tiago chegou a incentivar os crentes: “Considerem motivo de grande alegria o fato de passarem por diversas provações, pois vocês sabem que a prova da sua fé produz perseverança” (Tiago 1:2,3). Outras versões usam a palavra paciência. Mais adiante no capítulo, ele destaca a recompensa da nossa perseverança: “Feliz é o homem que persevera na provação, porque depois de aprovado receberá a coroa da vida que Deus prometeu aos que o amam” (Tiago 1:12).

    O que Deus prometeu

    Não prometeu Deus céu sempre azul,
    Nem mar de rosas, brisa do sul;
    Ou sol sem chuva, riso sem dor,
    Gozo sem choro, paz sem labor.

    Mas prometeu descanso em labor,
    Luz para a senda, diário vigor;
    Graça e socorro na provação,
    Amor infindo e compaixão.
    Annie Johnson Flint (1866–1932)

    A vida ensina

    A vida é um aprendizado e Jesus é o professor daqueles que O conhecem e amam. Ele deseja que cada um de nós cresça no entendimento dEle, do Seu amor e salvação, e de como podemos ser mais úteis para Ele e para os outros.

    Deus sabe que não conseguiremos cumprir Seus propósitos nos apoiando apenas na nossa própria força e sabedoria. Jesus inclusive disse: “Se alguém permanecer em mim e eu nele, esse dá muito fruto; pois sem mim vocês não podem fazer coisa alguma” (João 15:5). A Bíblia também diz que “tudo posso naquele que me fortalece” (Filipenses 4:13). Portanto, sabemos que o Espírito de Deus nos capacitará a fazer as boas obras que Ele preparou de antemão para que as praticássemos (Efésios 2:10).

    Logicamente, aprender a entregar nossos caminhos, pensamentos e ações a Deus é um processo que envolve tempo e experiência, além de desafios, dificuldades, fracassos e aparentes derrotas.

    A Bíblia relata muitas histórias de pessoas a quem Deus permitiu enfrentar lutas e enormes desafios em preparação para o cumprimento do Seu plano. Elas precisaram aprender a confiar em Deus, mesmo quando tudo ia contra suas expectativas. Um exemplo disso é a história de José, o filho favorito de Jacó.

    José era o mais novo de 12 irmãos. Os mais velhos tinham tanta inveja dele que quase o mataram. Primeiro o jogaram em uma cova e depois o venderam como escravo. Levado para o Egito, José foi escravizado e depois aprisionado como criminoso. Mas pela intervenção divina ele se tornou o segundo homem mais poderoso do Egito, e Deus o usou para salvar Seu povo da fome.

    Depois de alguns anos, José reencontrou seus irmãos, que na ocasião expressaram arrependimento pelo que lhe fizeram. José respondeu: “Vocês planejaram o mal contra mim, mas Deus o tornou em bem, para que hoje fosse preservada a vida de muitos” (Gênesis 50:20,21). Ele suportou muita coisa durante a sua vida para que pudesse realizar as boas obras que Deus havia “preparado de antemão para ele praticasse”.

    Considere a história do apóstolo Paulo. Ele era um líder judeu promissor, na época chamado Saulo, e decidira exterminar os seguidores de Jesus de Nazaré, uma seita em rápido crescimento (Atos 22:1–5). Saulo ia a caminho de Damasco, com a missão de capturar, encarcerar e executar o maior número possível de cristãos, quando de repente brilhou ao seu redor uma luz vinda do céu (Atos 9:3–5). Ele caiu por terra e ouviu a voz de Jesus que lhe dizia: “Eu sou Jesus, a quem você persegue”. Aqueles que acompanhavam Saulo também ouviram a voz, mas não viram ninguém (Atos 9:5–7).

    Cego e impotente diante daquela situação, Saulo precisou ser conduzido pela mão até a cidade. Ficou tão atônito com o que lhe acontecera que não conseguiu comer nem beber por três dias. Um discípulo do Senhor, chamado Ananias, foi instruído por Deus em uma visão para procurá-lo. No início ele resistiu, ciente da perseguição de Saulo aos crentes. Mas o Senhor lhe ordenou: “Vá! Este homem é meu instrumento escolhido para levar o meu nome perante os gentios e seus reis, e perante o povo de Israel. Mostrarei a ele o quanto deve sofrer pelo meu nome” (Atos 9:13–16).

    Ananias então orou por Saulo, que recuperou a visão, converteu-se e tornou-se o apóstolo Paulo (Atos 9:17–19), destinado a cumprir um chamado e um propósito especiais. Para isso, ele enfrentaria muitas provações e dificuldades que o capacitariam a ser usado por Deus para ajudar a estabelecer a igreja primitiva, divulgar o evangelho aos gentios e apresentar-se com ousadia perante governantes e autoridades. (Veja Atos 23 e 24)

    Portanto, ainda que não entendamos o porquê de uma fase de lutas, provações, dificuldades e quebrantamentos, é importante lembrar que Deus tem um propósito e sabe o que está fazendo (Jeremias 29:11)! Deus opera nas nossas maiores dificuldades para nos ensinar lições importantes que não aprenderíamos de outra forma, e para aumentar nossa fé nEle e nosso amor por Ele e pelos outros. Então, anime-se com estes exemplos da Bíblia! Não fique desencorajado, mesmo que tudo pareça estar desmoronando, suas esperanças sejam frustradas, ou você esteja passando por um período de angústia.

    É importante lembrar que muitas vezes não vemos as coisas como Deus as vê, pois “como os céus são mais altos do que a terra, também os meus caminhos são mais altos do que os seus caminhos e os meus pensamentos mais altos do que os seus pensamentos” (Isaías 55:8,9). Deus não nos julga ou retribui de acordo com nosso sucesso ou fracasso, mas de acordo com nossa fidelidade, como Jesus ensinou na parábola dos talentos (Mateus 25:14–29). Um dia, no céu, Ele dirá àqueles que Lhe foram fiéis: “Muito bem, servo bom e fiel! Você foi fiel no pouco; eu o porei sobre o muito. Venha e participe da alegria do seu senhor” (Mateus 25:21). Ele não dirá: “Meu servo bem-sucedido”, mas sim, “Meu servo fiel”.

    Não importa em qual fase da vida se encontre, pode confiar que, como filho de Deus, você está nas mãos de Deus (João 1:12,13). Você nasceu de novo para uma esperança viva, para uma herança que jamais poderá perecer, macular-se ou perder o seu valor. Herança guardada nos céus para você. Você é protegido mediante a fé, pelo poder de Deus (1 Pedro 1:3–5). O Deus do universo é seu Pai e o chama de Seu filho. Jesus o chamou de Seu amigo e o amou tanto que sofreu e morreu para redimi-lo e lhe dar a vida eterna (João 15:9–15).

    Deus nos deu muitas promessas de proteção, provisão e cuidado. É importante dedicar tempo para estudar a Sua Palavra de maneira a fortalecer a nossa fé. A Bíblia diz que, assim como os recém-nascidos precisam de leite, nós devemos desejar o leite espiritual puro, para podermos crescer por meio dele (1 Pedro 2:2). Embora a Bíblia não ofereça respostas específicas para cada situação ou fase da vida, ela nos ensina os princípios de Deus para enfrentarmos os desafios de uma maneira que agrade a Ele e seja uma bênção para os outros.

    “Seu divino poder nos deu todas as coisas de que necessitamos para a vida e para a piedade, por meio do pleno conhecimento daquele que nos chamou para a sua própria glória e virtude. Por intermédio destas ele nos deu as suas grandiosas e preciosas promessas, para que por elas vocês se tornassem participantes da natureza divina” (2 Pedro 1:3,4).

    Publicado no Âncora em junho de 2025.

  • Jun 16 Tudo que o Dinheiro não Compra
  • Jun 12 Dias Melhores Virão—4ª Parte
  • Jun 11 Uma História de Dois Servos
  • Jun 6 Quando as Coisas Parecem Impossíveis
  • Jun 4 O Chamado Contracultural do Cristianismo
  • Jun 3 Como Crescer Espiritualmente
  • Mai 29 Dias Melhores Virão—3a. Parte
  • Mai 27 Calma e Tranquilidade na Presença de Deus
  • Mai 22 Alinhar Nossas Vidas à Vontade Moral de Deus
   

Espaço dos Diretores

Estudos bíblicos e artigos para edificação da fé

  • 1 Coríntios: capítulo 11 (versículos 17–34)

    [1 Corinthians: Chapter 11 (verses 17–34)]

    Na segunda metade do capítulo 11, Paulo aborda outra questão relacionada ao culto coletivo: como os coríntios celebravam a Ceia do Senhor.

    Entretanto, nisto que vou dizer não os elogio, pois as reuniões de vocês mais fazem mal do que bem (1 Coríntios 11:17).

    Anteriormente, Paulo havia começado com palavras de louvor, mas agora afirma: “não os elogio”. Ele não os enaltece em nada, mas os repreende pelas práticas relacionadas às reuniões e ao culto público. Paulo não os condena completamente, já que antes os havia elogiado por manterem muitos de seus ensinamentos sobre o culto (1 Coríntios 11:2), mas explicita que os danos causados por esses momentos de adoração superavam os benefícios.

    Qual a razão de uma condenação tão dura? Os coríntios estavam corrompendo uma das cerimônias mais sagradas do culto cristão: a Ceia do Senhor. Não estavam honrando devidamente a Cristo, nem uns aos outros, quando participavam da Ceia.

    Em primeiro lugar, ouço que, quando vocês se reúnem como igreja, há divisões entre vocês, e até certo ponto eu o creio(1 Coríntios 11:18).

    Paulo inicia seu argumento com “em primeiro lugar”, mas não prossegue para um segundo ou terceiro ponto. Isso deve ser entendido como: “a principal maneira pela qual isso acontece é a seguinte”. Ele também acrescenta “ouço que”. Paulo não revela a fonte, mas anteriormente, nesta carta, afirmou que membros da casa de Cloé haviam relatado questões semelhantes (1 Coríntios 1:10–12). Ainda que não pudesse verificar a acusação, Paulo conhecia aquela igreja bem o suficiente para entender que os relatos eram, pelo menos em parte, verdadeiros.

    Paulo já havia abordado as divisões entre os coríntios nos capítulos 1 a 4. Aqui, sua crítica se concentra nas divisões que surgiam quando a igreja se reunia. Sua maior preocupação era que esse partidarismo comprometesse o culto público.

    Pois é necessário que haja divergências entre vocês, para que sejam conhecidos quais entre vocês são aprovados (1 Coríntios 11:19).

    Há duas interpretações para esse versículo. Segundo uma, algumas divisões podem ser fazer necessárias, pois a igreja inclui tanto crentes verdadeiros quanto pessoas que apenas professam a fé de forma falsa. Assim, é necessário que os verdadeiros crentes se destaquem, rejeitando as falsas doutrinas, para que fique claro quem tem a aprovação de Deus. Essa visão é apoiada pelo fato de que a palavra original (hairesis) traduzida como “divergências”, na NVI e “heresias” na NTLH, não é a mesma usada traduzida como divisões (schisma).

    Por outro lado, Paulo não afirmou explicitamente que aprovava essas divergências. Talvez estivesse sendo sarcástico, tratando as diferenças como parte das divisões. As divisões são claramente negativas, assim como as divergências também podem ser. Por isso, ele diz: “nisto que vou dizer não os elogio” (v. 17).

    Divergências causadas pelo pecado podem explicar por que alguns membros da igreja passavam fome, como Paulo logo mencionará. Os pobres talvez não fossem considerados “aprovados”, e quem sabe até fossem vistos como “descartáveis”.

    Quando vocês se reúnem, não é para comer a ceia do Senhor (1 Coríntios 11:20).

    Aqui Paulo introduz a questão principal. Quando os cristãos coríntios se reuniam para celebrar a Ceia do Senhor, as divisões eram tão graves que o que faziam não podia ser chamado de Ceia do Senhor. (Embora hoje esse termo seja comum para o ato da comunhão, ou eucaristia, este versículo é o único no Novo Testamento que usa a expressão “Ceia do Senhor”.)

    Porque cada um come sua própria ceia sem esperar pelos outros. Assim, enquanto um fica com fome, outro se embriaga (1 Coríntios 11:21).

    Paulo descreve o que havia sido relatado: ao comerem, faziam-no sem esperar os demais. A expressão “cada um come sua própria ceia” pode ser entendida como: “cada um come a sua refeição”. Paulo parece estar explicando que aquilo não era a Ceia do Senhor porque cada um estava centrado em si mesmo. Alguns chegavam a ponto de se embriagar, justamente em uma celebração que deveria relembrar o sacrifício de Jesus.

    Será que vocês não têm casa onde comer e beber? Ou desprezam a igreja de Deus e humilham os que nada têm? Que direi? Eu os elogiarei por isso? Certamente que não! (1 Coríntios 11:22).

    Paulo os corrige com perguntas retóricas. Primeiro, questiona se eles não têm casa onde comerem e beberem, como quem diz: “Se for para agir assim, é melhor que façam isso em casa”. Ele se opõe à discriminação dos pobres. Os coríntios estavam criando distinções sociais entre ricos e pobres justamente durante a Ceia. Isso perturbava profundamente Paulo, que fala com firmeza contra tal conduta.

    Segundo, ele denuncia que ao humilharem os pobres, demonstravam desprezo pela igreja de Deus. A igreja é composta por pessoas de todas as classes e etnias, iguais perante Deus. Quando os pobres são excluídos da Ceia, a santidade dessa cerimônia é desonrada. Como parte essencial da comunidade, os pobres não podem ser discriminados sem que isso represente um desprezo à própria igreja.

    Terceiro, Paulo pergunta se os ricos estavam tentando humilhar os que nada possuíam. Naquela época, os pobres eram frequentemente humilhados pelos ricos. Contudo, Jesus ensinou que “Bem-aventurados são vocês os pobres, pois a vocês pertence o Reino de Deus” (Lucas 6:20). O Senhor também alertou os ricos sobre os perigos de sua posição social (Marcos 10:25). Em Corinto, além de não possuírem bens materiais, os pobres também tinham sua dignidade roubada — e tudo isso durante a Ceia do Senhor. Em tom irônico, Paulo pergunta se deveria elogiá-los por esse comportamento. E ele mesmo responde: “Certamente que não!”.

    Pois recebi do Senhor o que também entreguei a vocês: Que o Senhor Jesus, na noite em que foi traído, tomou o pão e, tendo dado graças, partiu-o e disse: “Isto é o meu corpo, que é dado em favor de vocês; façam isto em memória de mim” (1 Coríntios 11:23,24).

    Paulo prossegue lembrando os coríntios dos ensinamentos que já lhes havia transmitido a respeito da Ceia do Senhor. A expressão “lhes transmiti” era usada pelos rabinos da época para indicar a transmissão oficial de tradições religiosas sagradas. Essa passagem contrasta com o elogio anterior de Paulo aos coríntios por guardarem os ensinamentos que ele lhes havia “transmitido” (1 Coríntios 11:2). Quanto à Ceia do Senhor, eles sabiam como ela deveria ser celebrada, mas falharam em aplicar corretamente esse ensinamento.

    O fato de não obedecerem ao que Paulo ensinara era preocupante, pois ele não havia inventado a Ceia — apenas transmitira o que recebera do Senhor. Paulo não explica exatamente como recebeu esse ensinamento: pode tê-lo obtido dos outros apóstolos (Gálatas 1:18) ou diretamente de Cristo durante seu tempo na Arábia (Gálatas 1:15–17).

    Paulo então explica, de forma clara, como devem celebrar a Ceia do Senhor, relatando como Ele próprio a conduziu na noite em que foi traído. Ele apresenta quatro ações: Jesus tomou o pão, deu graças, partiu-o e declarou: “Isto é o meu corpo, que é dado em favor de vocês”.

    A palavra “pão” também pode ser traduzida como “um único pão” ou “um pão inteiro”. É provável que Jesus tenha usado um único pão para simbolizar a unidade entre os que participam da Ceia. Ele deu graças e o partiu. Era comum os anfitriões partirem o pão para os convidados, como Jesus fez ao alimentar os cinco mil (Marcos 6:41; João 6:11), quando explicou aos Seus discípulos o significado simbólico do pão.

    Paulo destaca três declarações de Jesus. A primeira: “Isto é o meu corpo”. Essa frase gerou controvérsia ao longo da história da igreja. A tradição católica romana interpreta esse trecho de forma literal, entendendo que, durante a comunhão, o pão e o vinho tornam-se o corpo e o sangue reais de Cristo — doutrina conhecida como “transubstanciação”.

    A tradição luterana defende a “consubstanciação”: o corpo e o sangue de Cristo estão presentes nos elementos, mas as substâncias físicas não se alteram. A maioria dos protestantes acredita que Cristo está presente espiritualmente na Ceia, e que os elementos são símbolos de Seu corpo e sangue. Essa passagem, assim como os relatos nos Evangelhos, não esclarece isso, mas Jesus nos assegura: “Pois onde se reunirem dois ou três em meu nome, ali eu estou no meio deles” (Mateus 18:20).

    A segunda declaração: “que é dado em favor de vocês”. Cristo sofreu e morreu na cruz por amor aos outros. Sua expiação é oferecida a todos, disponível àqueles que se voltam para Ele com fé e arrependimento (1 João 1:9–2:2). Porém, nesta declaração, Jesus especifica que entregou Sua vida por um grupo em particular — Seus seguidores. Seu sofrimento pagou o preço pelos pecados apenas dos que creem nEle como Senhor e Salvador.

    A terceira: “Façam isto em memória de mim”. A Ceia foi instituída como um momento para o povo de Deus lembrar-se da morte e ressurreição de Jesus. A última refeição de Jesus com os apóstolos ocorreu no contexto de Sua traição, prisão e morte iminente1. Ao partir e compartilhar o pão, recordamos o sofrimento de Cristo por nós.

    Esse chamado à lembrança aparece novamente quando se menciona o sangue de Cristo no versículo seguinte.

    Da mesma forma, depois da ceia ele tomou o cálice e disse: “Este cálice é a nova aliança no meu sangue; façam isto sempre que o beberem em memória de mim” (1 Coríntios 11:25).

    Paulo volta-se agora ao cálice, observando que Jesus o tomou “da mesma forma”, indicando que também houve uma bênção dedicada para ele. Paulo repete a declaração feita sobre o pão: “Façam isto... em memória de mim”. Assim, destaca que a lembrança e reverência por Cristo eram o centro da cerimônia da Ceia.

    O relato de Paulo ecoa o de Lucas, que também se refere ao cálice como “a nova aliança no meu sangue” (Lucas 22:17–20). A expressão “nova aliança” vem de Jeremias 31:31, onde se descreve um novo acordo que Deus faria com o remanescente de Seu povo, baseado no perdão dos pecados e com a lei escrita nos corações. O Novo Testamento recebe seu nome justamente dessa nova aliança, estabelecida pela vida, morte e ressurreição de Jesus — o cumprimento da promessa.

    Porque, sempre que comerem deste pão e beberem deste cálice, vocês anunciam a morte do Senhor até que ele venha (1 Coríntios 11:26).

    Por que os atos de comer e beber na Ceia devem lembrar Cristo? Porque, ao participar da Ceia, os cristãos anunciam a morte do Senhor até que Ele volte. Quando os descrentes observam a igreja celebrando a comunhão, lembrando-se do sacrifício de Jesus que deu a vida por nós, a mensagem do evangelho é proclamada. A expressão “a morte do Senhor” representa a obra total da salvação em favor da igreja: a vida, morte, ressurreição e ascensão de Cristo.

    Portanto, todo aquele que comer o pão ou beber o cálice do Senhor indignamente será culpado de pecar contra o corpo e o sangue do Senhor (1 Coríntios 11:27).

    Participar da Ceia do Senhor “indignamente” é cometer pecado contra o corpo e o sangue de Cristo. Tradicionalmente, isso foi interpretado como participar da Ceia com pecados não confessos. De certo modo, todos somos indignos, pois ninguém é plenamente digno. Ainda assim, é importante que o crente confesse seus pecados e se prepare, mas Paulo estava tratando aqui de algo mais específico: a indignidade à qual se referia era uma igreja que não estava unida em Cristo para celebrar a Ceia do Senhor.

    Examine-se cada um a si mesmo e então coma do pão e beba do cálice. Pois quem come e bebe sem discernir o corpo do Senhor come e bebe para sua própria condenação (1 Coríntios 11:28–29)

    Para não incorrerem em pecados, os crentes devem “examinar” suas intenções e atitudes antes de participar da Ceia, para que estejam alinhados aos ensinamentos de Cristo. A razão desse autoexame é que a participação sem reverência ou discernimento sobre o sacrifício de Cristo traz condenação sobre a própria pessoa.

    Paulo deu essa instrução para corrigir um problema específico. De forma geral, a Ceia deve ser um momento de celebração, em que os crentes se concentram no sacrifício de Cristo, na unidade da fé e na proclamação do Evangelho. O foco deve estar em Cristo e nos outros — não em si mesmo. É na preparação para a Ceia que a introspecção deve ocorrer, para garantir que se está participando de forma digna.

    Por isso há entre vocês muitos fracos e doentes, e vários já dormiram (1 Coríntios 11:30).

    Paulo continua enfatizando a seriedade de se violar a Ceia do Senhor, apontando que muitos coríntios estavam sendo punidos por Deus por meio de fraqueza, doenças e, em alguns casos, até a morte. É importante lembrar que enfermidades e morte nem sempre são consequência direta do pecado pessoal e acontecem com crentes e descrentes por diversas razões.2 No entanto, neste caso específico, Paulo afirma que estavam sendo disciplinados pelo Senhor.

    Mas, se nós tivéssemos o cuidado de examinar a nós mesmos, não receberíamos juízo. Quando, porém, somos julgados pelo Senhor, estamos sendo disciplinados para que não sejamos condenados com o mundo (1 Coríntios 11:31–32).

    Paulo acrescenta que, se os coríntios fizessem esse autoexame com sinceridade antes de participarem da Ceia e mudassem suas ações, Deus não os castigaria com doenças e morte. Então lembra aos coríntios que ser castigado por Deus não é o mesmo que ser condenado por Ele, pois Deus corrige aqueles a quem ama (Hebreus 12:5–11). Ele disciplina a igreja para que os crentes despertem, se arrependam e voltem a Cristo para não serem condenados juntamente com o mundo.

    Portanto, meus irmãos, quando vocês se reunirem para a Ceia do Senhor, esperem uns pelos outros.  E, se alguém estiver com fome, que coma em casa, para que Deus não castigue vocês por causa dessas reuniões. Os outros assuntos eu resolverei quando chegar aí (1 Coríntios 11:33,34 - NTLH).

    Paulo conclui com uma síntese e orientações finais, tratando-os carinhosamente como irmãos. A primeira orientação, “esperem uns pelos outros”, mostra que, no contexto dos coríntios, a Ceia era parte de uma refeição. Ele enfatiza que todos devem participar igualmente, aguardando a chegada de todos antes de comer. Se alguns chegassem cedo, deveriam esperar até que outros chegassem antes de comer. Em vez de os ricos comerem primeiro e os pobres ficarem sem nada, todos na celebração deveriam comer ao mesmo tempo. Isso mostraria a devida honra aos pobres e, portanto, a Cristo.

    Em segundo lugar, Paulo recomenda que, se alguém estiver com fome, deve comer em casa. Ele não repreende os pobres por chegarem com fome à Ceia, pois isso era inevitável para eles. Mas adverte aos que tinham condições para se alimentarem antes, para que todos comessem juntos na celebração da Ceia do Senhor.

    Paulo aborda aspectos fundamentais da Ceia do Senhor e da maneira de participarmos dela. A celebração da comunhão é uma proclamação da morte de Jesus e de Seu sacrifício por nossa redenção, devendo ser observada com reverência e adoração. Ele também realça a unidade que esse momento representa para a igreja, o corpo de Cristo. No entanto, Paulo sabia que os coríntios ainda precisavam de mais instruções sobre o assunto, as quais prometeu dar pessoalmente em sua próxima visita.


    Nota
    A menos que indicado o contrário, todas as Escrituras foram extraídas da Bíblia Sagrada — Tradução Nova Versão Internacional (NVI).


    1 Veja Mateus 26:17–29; Marcos 14:12–25; Lucas 22:7–20.

    2 Veja Jó 2:1–7; João 9:2–3; Romanos 8:36.

    Copyright © 2025 A Família Internacional. Política de privacidade Política de uso de cookies

  • Mai 20 1 Coríntios: Capítulo 11 (versículos 2–16)
  • Abr 28 1 Coríntios: Capítulo 10 (versículos 16–33)
  • Abr 8 1 Coríntios: Capítulo 10 (versículos 1–15)
  • Abr 1 1 Coríntios: Capítulo 9 (versículos 18-27)
  • Mar 23 1 Coríntios: Capítulo 9 (versículos 1–17)
  • Mar 3 1 Coríntios: Capítulo 8 (versículos 1–13)
  • Fev 20 1 Coríntios: Capítulo 7 (versículos 17–40)
  • Fev 5 1 Coríntios: Capítulo 7 (versículos 1-16)
  • Jan 24 1 Coríntios: Capítulo 6 (versículos 1–20)
   

Crenças

Mais…
  • A Família Internacional (AFI) é uma comunidade cristã internacional online dedicada à difusão da mensagem do amor de Deus em todo o mundo. Acreditamos que todos podem ter um relacionamento pessoal com Deus por meio de Jesus Cristo, que proporciona alegria, paz de espírito, a motivação para ajudar os outros e para divulgar as boas novas do Seu amor.

Missão

Mais…
  • O objetivo principal de A Família Internacional é melhorar a qualidade de vida das pessoas, compartilhando a mensagem vivificante de amor, esperança e salvação encontrada na Palavra de Deus. Acreditamos que o amor de Deus—aplicado de uma maneira prática ao nosso dia a dia—é o segredo e a solução para muitos dos problemas da sociedade, mesmo neste mundo complexo e acelerado. Acreditamos que, ao transmitirmos a esperança e a orientação oferecidas nos ensinamentos da Bíblia, podemos trabalhar no sentido de construirmos um mundo melhor, mudando o mundo um coração de cada vez.

Valores

Mais…
  • Buscar o Espírito de Deus

    Queremos conhecer e entender a verdade da Palavra de Deus, a essência de Sua natureza divina. Valorizamos os princípios enunciados da Palavra escrita; ouvir de Deus e seguir a Sua orientação.

Sobre AFI

AFI Online é um site comunitário para membro da AFI internacional. AFI é um convívio cristão dedicado a dividir a mensagem do amor de Deus com as pessoas no mundo todo.

Visite nosso site principal se deseja conhece mais da AFI.

Se for um membro AFI, faça seu login para visualizar outros conteúdos

Nova Série

Mais…
1 e 2 Tessalonicenses
Um estudo das epístolas de Paulo aos tessalonicenses e a aplicação desses ensinamentos no mundo atual.
Vamos à Essência de Tudo
Uma série de ensaios tratando dos princípios da fé e doutrina cristãs.
A Prática do Cristianismo
Como aplicar os ensinamentos da Bíblia ao nosso cotidiano e decisões diárias.